Levantamento revela que entre 50 e 60 milhões de brasileiros estão sob regras impostas pelo narcotráfico; Brasil lidera ranking na América Latina
Segundo o estudo Governança Criminal na América Latina: Prevalência e Correlatos, elaborado por pesquisadores de quatro universidades norte-americanas, um em cada quatro brasileiros vive sob o controle direto de facções criminosas, consolidando o país como líder regional em influência do narcotráfico. Os dados são baseados na pesquisa Latinobarómetro de 2020, que abrange 18 países latino-americanos.
A estimativa é que entre 50,6 e 61,6 milhões de pessoas no Brasil, o que representa 26% da população, estejam submetidas à chamada “governança criminal” — um conceito que define o poder paralelo exercido por organizações criminosas sobre comunidades inteiras, afetando rotinas, segurança, eleições e até o acesso a serviços públicos.
América Latina tem 14% da população sob influência de organizações criminosas
Em toda a América Latina, esse tipo de domínio afeta entre 77 e 101 milhões de habitantes, o equivalente a 14% da população regional. O Brasil aparece isolado na liderança do ranking de países mais afetados, seguido por:
- Costa Rica (13%)
- Honduras (11%)
- Equador (11%)
- Colômbia (9%)
- El Salvador (9%)
- Panamá (9%)
- México (9%)
A influência das facções criminosas ultrapassa os limites do tráfico de drogas e se manifesta no cotidiano da população local, afetando desde as normas sociais impostas nas comunidades até interferências no processo eleitoral e na prestação de serviços públicos básicos.
“Em comunidades por toda a América Latina, organizações criminosas fornecem ordem e segurança básicas. Embora pesquisas multidisciplinares sobre governança criminal (GC) tenham esclarecido sua dinâmica em centenas de estudos locais específicos, sua extensão permanece pouco estudada”, afirmam os autores.
Repressão estatal não é garantia de redução da governança criminal
O relatório também discute a relação entre a presença do Estado e o nível de influência das organizações criminosas. Embora se presuma que o fortalecimento do aparato estatal possa reduzir a atuação de facções, os pesquisadores apontam que essa não é uma regra universal.
“Esses resultados lançam dúvidas sobre a suposição, e outrora a sabedoria convencional, de que a simples expansão da capacidade e da presença do Estado naturalmente eliminará a governança criminal; na verdade, tais táticas parecem propensas a sair pela culatra”, explicam os autores. Eles destacam ainda que tais interpretações são apenas hipóteses e que “somente pesquisas futuras poderão responder” com mais precisão.
Mapeamento das facções criminosas no Brasil
Uma reportagem divulgada pelo jornal O Globo em 10 de agosto revelou que o Brasil abriga atualmente 64 facções criminosas, com presença em todos os Estados da federação. Destas, 12 têm atuação interestadual, enquanto 52 operam exclusivamente em nível local.
O Primeiro Comando da Capital (PCC) atua em 25 Estados, enquanto o Comando Vermelho (CV) está presente em 26 unidades federativas, com exceção do Rio Grande do Sul, onde surgiram grupos locais como Bala na Cara (BNC) e Os Manos.
Os Estados com maior número de facções identificadas são:
- Bahia, com 17 facções;
- Pernambuco, com 12;
- Mato Grosso do Sul, com 10.
Enquanto Bahia e Pernambuco lidam com conflitos entre facções locais, Mato Grosso do Sul sofre com a presença de nove das 12 facções interestaduais, devido à sua localização estratégica nas rotas do tráfico entre Paraguai e Bolívia.
Atuação internacional e influência estrangeira
Embora o PCC já possua atuação fora do país, facções estrangeiras ainda são minoria no Brasil. Uma exceção é o Estado de Roraima, onde já foi registrada a atuação do grupo Tren de Aragua, originário da Venezuela.
Já o Rio de Janeiro se destaca como principal polo exportador de facções, abrigando, além do CV, dois grupos com alcance nacional: o Terceiro Comando Puro (TCP) e os Amigos dos Amigos (ADA).
Autores e publicação do estudo
A pesquisa foi publicada na última semana pela Cambridge University Press e tem como autores os pesquisadores Andres Uribe, Benjamin Lessing, Noah Schouela e Elayne Stecher. O estudo representa uma das análises mais amplas sobre o fenômeno da governança criminal na América Latina e reforça a gravidade da situação brasileira no contexto regional.As informações são da Revista Oeste.
Do jeito que a coisa está atualmente acho que 25% é pouco