Sindicalista acusado de estelionato discutiu regras do benefício com ministros e assessores do Planalto
José Fernandes Barra, sindicalista e ex-vereador do PT, é réu em uma ação penal por estelionato ligada a fraudes no seguro-defeso — benefício pago a pescadores durante o período de reprodução dos peixes. Apesar disso, ele tem participado de reuniões com ministros e técnicos do governo federal para discutir mudanças no setor pesqueiro.
Barra responde a processo na Justiça Federal do Pará ao lado de outros 19 sindicalistas acusados de utilizar senhas de servidores do INSS para cadastrar pescadores inexistentes e fraudar o pagamento do benefício.
Atualmente, ele preside a Federação dos Trabalhadores da Aquicultura e Pesca do Pará. A posição, somada às conexões políticas, lhe garante acesso a autoridades em Brasília.
Reuniões com ministros e técnicos
Mesmo após ser indiciado pela Polícia Federal, em novembro do ano passado, Barra foi recebido pelo ministro da Pesca, André de Paula, para discutir um auxílio extraordinário aos pescadores afetados pela estiagem.
Em abril deste ano, já denunciado pelo Ministério Público, participou de uma reunião no Palácio do Planalto com assessores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para tratar de estratégias para o setor pesqueiro.
No mês passado, já na condição de réu formal, foi recebido pela ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, no Palácio do Planalto, para debater mudanças em medida provisória e o que classificava como uma “ameaça” ao acesso dos pescadores ao seguro-defeso.
Defesa do sindicalista
O advogado Neto Mindello, que representa Barra, nega que o sindicalista tenha envolvimento nas fraudes. Segundo ele, seu cliente nunca foi chamado pelas autoridades para prestar esclarecimentos. A defesa alega ainda que as suspeitas podem ter surgido de dificuldades enfrentadas por pescadores humildes no preenchimento de formulários, o que poderia ter gerado inconsistências.