Investigação aponta que Andreson Gonçalves recebeu milhões em caso ligado ao grupo J&F e teve acesso a minuta sigilosa de voto no tribunal
A Polícia Federal (PF) abriu uma nova linha de investigação para apurar os vínculos entre o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves e o grupo J&F, controlador da JBS, no inquérito que investiga um esquema de venda e vazamento de decisões no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A medida foi mencionada em um relatório parcial enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) e divulgado pelo Estadão. Segundo o documento, mensagens, movimentações financeiras e registros de processos indicam que Andreson teria recebido cerca de R$ 19 milhões por sua atuação em um caso ligado ao grupo empresarial.
Transferências milionárias e elo com a JBS
O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou transferências de R$ 15 milhões da JBS para o escritório da advogada Mirian Ribeiro, esposa de Andreson e também investigada.
De acordo com mensagens interceptadas, o lobista mencionava que o processo estava relacionado ao “pessoal do sr. Zé Mineiro”, referência a José Batista Sobrinho, fundador da JBS e pai dos empresários Joesley e Wesley Batista.
Para os investigadores, os indícios sugerem ligação direta entre o lobista e o grupo J&F, o que motivou a PF a ampliar o escopo da apuração.
Em nota, a JBS confirmou pagamentos ao escritório de Mirian Ribeiro, mas negou qualquer irregularidade:
“Qualquer pagamento feito ao escritório da advogada se refere a honorários — êxito ou pró-labore — em processos da empresa. Todos os serviços possuem efetiva comprovação nos autos desses procedimentos. O escritório não presta mais serviços para a JBS.”
Acesso a minuta sigilosa de voto
A investigação revelou ainda que Andreson Gonçalves teve acesso a uma minuta de voto da ministra Nancy Andrighi, documento sigiloso que ainda não havia sido divulgado oficialmente, em um processo envolvendo o grupo J&F.
O episódio chamou a atenção da PF por demonstrar acesso privilegiado a informações internas do tribunal. O servidor Márcio Toledo, que trabalhava no gabinete de Nancy e é investigado por vazamento de informações, foi exonerado recentemente do STJ. A ministra não é alvo da investigação.
Em nota, Nancy Andrighi declarou acompanhar o caso com “perplexidade” e afirmou que seu gabinete coopera integralmente com as autoridades:
“Confio que a investigação servirá para esclarecer em definitivo o assunto e punir de forma exemplar os envolvidos.”
Relatório encaminhado ao STF
O relatório parcial da PF foi remetido ao ministro Cristiano Zanin, relator do caso no Supremo Tribunal Federal, que decidirá sobre os próximos passos da investigação.
A corporação informou que, devido à complexidade dos indícios, será aberto um procedimento autônomo para aprofundar as apurações envolvendo o lobista e a JBS.
Andreson Gonçalves permanece em prisão domiciliar, monitorado por tornozeleira eletrônica.
Os empresários Joesley e Wesley Batista, filhos de José Batista Sobrinho, já haviam sido investigados na Operação Lava Jato e firmaram acordo de delação premiada — embora as acusações posteriores tenham sido arquivadas.
Tudo como era antes no reinde Abrantes