Governo Lula cria ‘filiais’ do Ministério da Cultura e distribui cargos para aliados, aponta jornal

Governo Lula Cria Rede de Escritórios do Ministério da Cultura em Todos os Estados, Segundo Reportagem
Lula Lula
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil Local: Brasília-DF

Governo Lula Cria Rede de Escritórios do Ministério da Cultura em Todos os Estados, Segundo Reportagem

De acordo com uma reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, o governo do presidente Luiz Inácio da Silva (PT) criou uma rede de escritórios do Ministério da Cultura em todos os estados do Brasil, empregando um total de 80 servidores. Segundo o Ministério, a estrutura tem como objetivo promover uma base partidária para “fortalecer a coalizão política e a democracia”.

Esses escritórios, amplamente ocupados por membros do PT, têm como uma de suas principais funções influenciar a seleção de ONGs que formarão comitês culturais estaduais. A iniciativa faz parte de uma política nacional que prevê um investimento de R$ 58,8 milhões na “difusão cultural” nos próximos dois anos.

Comissionados e ligações partidárias

O Ministério da Cultura afirmou que a escolha dos comissionados é baseada em suas experiências no setor cultural, negando que a filiação partidária seja um critério para os cargos. Contudo, também reconheceu que o opera com uma ampla base partidária para “promover a coalizão política e fortalecer a democracia”.

A reportagem do Estadão aponta que algumas ONGs escolhidas para receber fundos públicos têm relações com membros do PT e integrantes do Ministério da Cultura. Entre as ONGs, há uma ligada a um empresário acusado de desvio de recursos culturais e outra administrada por um candidato a vereador que utilizou os recursos para atividades eleitorais.

Dos 26 escritórios estaduais, 19 são liderados por membros do PT, um é coordenado por um filiado ao PSB e outro por um integrante do PSOL. Os cinco restantes, embora não sejam formalmente filiados a partidos, têm ligações políticas expressivas.

Perfis dos coordenadores regionais

Um dos exemplos é o coordenador do escritório da Bahia, que não consta na lista oficial de filiados ao PT, mas trabalhou durante três mandatos no gabinete do deputado federal Jorge Solla (PT-BA), antes de ser nomeado para o cargo no Ministério em setembro do ano passado.

No Paraná, Loana Campos, chefe do escritório, também não é filiada ao PT, mas possui fortes laços com João Paulo Mehl, articulador do comitê estadual e membro do PT. Em outubro de 2023, Campos foi nomeada e, dois meses depois, a ONG Soylocoporti, ligada a Mehl, firmou um convênio com o Ministério para liderar o comitê cultural do Paraná. Segundo Campos, sua escolha ocorreu após um rigoroso processo de seleção por edital, sem influência da filiação partidária.

No Amazonas, a ONG escolhida para coordenar o comitê cultural tinha como diretor Ruan Octávio da Silva Rodrigues, filiado ao PT desde 2012. Depois de firmar convênio com o Ministério, Rodrigues foi nomeado coordenador do escritório em Manaus. Durante a campanha eleitoral, ele trabalhou pela eleição de Anne Moura, secretária nacional de Mulheres do PT, sem sucesso. Rodrigues substituiu Michelle Andrews, que deixou o cargo para concorrer a uma vaga na Câmara pelo PCdoB.

Promessa de campanha e estruturação dos escritórios

Os comitês de cultura eram uma promessa de campanha de Lula em 2022, com o objetivo de “democratizar o acesso à cultura e aumentar a participação social”. Durante a abertura da quarta Conferência Nacional de Cultura, em março deste ano, Lula destacou a importância dos comitês para “enraizar valores democráticos” e criticou o governo anterior por ter reduzido o status do Ministério.

Lula e Janja com artistas, durante a campanha de 2022 | Foto: Divulgação/Ricardo Stuckert

“Me expliquem como estão os meus comitês culturais, eu quero saber, porque a única possibilidade de a gente evitar que um dia volte alguém para destruir é enraizar aquilo que a gente acredita no meio do povo, no seio do povo, nas entranhas da sociedade”, afirmou o presidente.

A missão dos escritórios é considerada estratégica pelo governo para a “defesa da democracia e no direito à cultura”. Segundo a coordenadora do escritório do Rio Grande do Sul, filiada ao PT desde 2008, após um ano focado em “união e reconstrução”, as políticas culturais já estão enraizadas na maioria dos municípios da região Sul.

Tanto os escritórios quanto os comitês são subordinados à Secretaria de Comitês de Cultura, recriada após o rebaixamento da pasta para secretaria durante o governo do ex-presidente (PL). Roberta Martins é a titular da secretaria.

As atividades dos escritórios regionais estão estabelecidas em um decreto de janeiro de 2023, incluindo a seleção de representantes da sociedade civil para os comitês culturais, a organização de reuniões e a representação do Ministério nos estados.

O que diz o governo

Em resposta ao Estadão, o Ministério da Cultura reiterou que a seleção dos servidores ocorre com base em suas experiências no setor cultural, sem considerar a filiação partidária como critério.

Após as denúncias de seleção de ONGs ligadas ao PT, membros da oposição no Congresso Nacional solicitaram investigação. O senador Rogério Marinho (PL-RN) e o deputado Luciano Zucco (PL-RS) pediram ao Tribunal de Contas da União (TCU) que apure se os princípios de moralidade, legalidade, impessoalidade e eficiência na utilização de recursos públicos estão sendo respeitados, conforme o artigo 37 da Constituição Federal.

O senador Marinho destacou que a reportagem levanta preocupações sobre a possível instrumentalização da máquina pública para beneficiar interesses partidários e privados. As informações são da Revista Oeste.

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