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Frigoríficos podem ter prejuízo de US$ 600 milhões com embargo chinês

Até a suspensão das importações, empresas brasileiras tinham exportado 122 mil toneladas de carne

O Brasil entrou na oitava semana com as exportações de carne para a China suspensas. Desde o dia quatro de setembro, o país asiático embargou a compra da carne bovina.

Inicialmente, o problema estava relacionado a dois casos de mal da “vaca louca” — doença cerebral em bovinos adultos que pode ser transmitida aos seres humanos por carne contaminada — entretanto, nos exames laboratoriais realizados depois da detecção dos casos, descobriu-se que a doença identificada não estava na forma transmissível.

Os casos foram descobertos entre os meses de junho e julho no momento do abate, dentro dos frigoríficos, porém, a comunicação aos chineses só aconteceu em agosto. “Os chineses não teriam gostado desse atraso [na comunicação do problema], foi o que percebemos na conversa com os importadores”, alertou a CEO da consultoria Agrifatto, Lygia Pimentel.

Pelo acordo comercial entre os dois países, toda vez que for identificado uma ocorrência dessa natureza, até comprovar laboratorialmente as causas, é necessário suspender as exportações. “E não aconteceu isso imediatamente, os frigoríficos continuaram mandando carne para a China, principalmente, no mês de agosto. Isso pode ter causado um desgaste diplomático”, sugeriu Pimentel.

A partir de quatro setembro, o Brasil perdeu a certificação da carne bovina e suspendeu as exportações, porém, os frigoríficos tinham embarcado o produto durante o mês anterior, porque tinha a certificação antes dessa medida adotada em cumprimento ao protocolo sanitário, explicou a CEO da Agrifatto.

“Os frigoríficos sabiam do problema antes de ser oficializado entre os dois países, então, aceleraram a certificação de carne para tentar suavizar o que aconteceria no futuro [com a suspensão] e aí continuaram colocando a carne nos navios”, disse Pimentel.

Em setembro, a China recebeu 221 mil toneladas de carne bovina brasileira — o maior volume da história registrado até então.

“Tudo indica que, naquele período, as empresas fizeram uma escolha de acelerar a exportação devido aos riscos existentes no momento, com a escassez global de contêineres e o aumento do custo do frete marítimo”, apontou Pimentel.

122 mil toneladas de carne embargada

O governo chinês já solicitou que a carne que foi embarcada e está parada no porto seja retirada do país. Outra parte ainda está nos navios a caminho da Ásia. No entanto, os frigoríficos ainda tentam realocar o produto em outros mercados do continente. “O pior cenário seria essa carne voltar ao Brasil, o prejuízo, por causa do frete, seria bem maior”, explicou Pimentel.

De acordo com os cálculos dos economistas que acompanham o problema, ao todo, as empresas brasileiras têm cerca de US$ 600 milhões em carne bovina parada no porto da China, aguardando liberação.

Reflexos no mercado interno

Desde a crise com o país asiático, a arroba do boi gordo caiu cerca de 15%. Antes da suspensão, custava em torno de R$ 315, na cotação de hoje, está beirando os R$ 265 para exportação, porém, essa redução não deve ser percebida pelo brasileiro, porque os cortes exportados para a Ásia são diferentes dos comercializados no mercado interno.

Atualmente, do total de carne bovina exportada, metade vai para a China, o que corresponde a 15% da produção nacional.

Negociações

No começo do mês, um relatório da Organização Mundial da Saúde Animal, a pedido do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, apontou que não há risco de proliferação da doença no rebanho brasileiro ou risco de contaminação para os consumidores.

Na semana passada, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, anunciou que pretende ir à China resolver a questão com autoridades locais.

O ministro das Relações Exteriores, Carlos França, realizou videoconferência com o ministro de Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, sobre a retomada das exportações de carne bovina. As informações foram divulgadas no Twitter do Itamaraty. Segundo a postagem, o ministro chinês disse acreditar que o assunto será “resolvido rapidamente”.

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