Projeções científicas apontam colapso de infraestrutura, perdas bilionárias e devastação costeira no noroeste dos Estados Unidos
Há pelo menos 325 anos, a Falha de Cascádia mantém a costa oeste dos EUA sob risco de um terremoto colossal. Em 1700, um abalo de magnitude 9 gerou ondas de até 20 metros e 800 km/h, que atingiram a costa em cerca de meia hora e avançaram 8 km continente adentro — rios foram reduzidos a amontoados de escombros durante 5 horas de tsunami.
A origem desse episódio está na Zona de Subducção de Cascádia, uma estrutura geológica de 1.000 km entre o sul da Colúmbia Britânica, no Canadá, e o norte da Califórnia. A faixa funciona como uma panela de pressão, associada ao vazamento de um líquido misterioso do fundo do mar, fator que mantém vivo o temor de novo evento catastrófico.
Clima agrava o cenário e mobiliza a ciência
O fluxo contínuo desse fluido alimenta a possibilidade de outro terremoto extremo — e a crise climática tende a ampliar os danos, segundo pesquisadores. A preocupação levou a Fundação Nacional de Ciência dos EUA a destinar, em 2023, US$ 15 milhões para a criação do Centro de Ciência de Terremotos da Região de Cascádia, ligado à Universidade do Oregon.
“Terremoto aniquilador”: probabilidade e efeitos em cadeia
Cientistas do centro estimam 35% de chance de a falha gerar novo abalo de magnitude ≥ 8,0 nos próximos 50 anos. Quando ocorrer, o evento deve produzir tsunami, deflagrar riscos em cascata e remodelar o noroeste do Pacífico.
No Oregon, por exemplo, 90% do combustível do estado estão em tanques nas planícies que margeiam o Rio Willamette — 350 milhões de galões. Em um terremoto, o solo pode implodir, rompendo os reservatórios e despejando mais de 100 milhões de galões nos rios e afluentes. Seria um desastre ambiental e de saúde pública capaz de aniquilar rotinas e serviços.
Inundações costeiras e afundamento do terreno
Um estudo divulgado em abril pela Universidade da Califórnia prevê que o próximo grande terremoto deverá provocar afundamento abrupto do solo entre 0,5 m e 2 m. Somado ao aumento do nível do mar, o solapamento devastaria lavouras próximas à costa. Mantida a trajetória da crise climática, a exposição dos moradores aos impactos do evento pode mais que triplicar até 2100.
Infraestrutura, mortes e prejuízo
Somente em Oregon e Washington, o tsunami de um abalo de magnitude 9 poderia matar 30 mil pessoas no primeiro impacto, indica o estudo. A destruição incluiria 2.000 pontes e viadutos e 170 mil edificações na faixa costeira, entre colapsadas e danificadas. Estimativas apontam a extinção de 75% das rodovias litorâneas, 60% dos quartéis de bombeiros, 75% das escolas e 80% dos portos. O rombo econômico projetado chega a US$ 81 bilhões (R$ 432 bilhões), um quadro capaz de aniquilar por anos a vida na costa dos EUA.
Comunidade se prepara: alertas e treino
Para enfrentar um cenário que pode acontecer “em cinco ou em 100 anos”, o Centro de Ciência de Terremotos da Região de Cascádia articula especialistas de múltiplas áreas e setores da sociedade. Um marco foi o ShakeAlert, sistema já ativo na Califórnia, Oregon e Washington: sensores no mar e em terra, espaçados entre 6 e 12 milhas, detectam tremores e disparam alertas para celulares.
O maior ensaio de resposta sísmica do mundo
No dia 16 de outubro, o centro planeja o ShakeOut, maior simulado sísmico global, realizado todo ano na terceira quinta-feira de outubro, sempre às 10h16 (em referência à data 10/16). “Assim que você sentir tremer ou receber um alerta de terremoto, você precisa se abaixar, se cobrir e se proteger”, já adverte a entidade.
Até agora, 22,8 milhões de pessoas se inscreveram no exercício, sendo 16,7 milhões apenas nos EUA — um esforço para reduzir perdas caso um terremoto volte a afundar o solo e aniquilar parte da costa.