Exportação de material para repressão
No último ano, o regime de Nicolás Maduro adquiriu 20 mil frascos de spray de pimenta brasileiro, conforme apuração da BBC Brasil. A negociação contou com a aprovação do Ministério da Defesa, liderado pelo ministro José Múcio Monteiro, e do Exército Brasileiro, embora as empresas responsáveis pela venda não tenham sido identificadas.
De acordo com informações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, a Venezuela foi o maior importador do item, amplamente utilizado pelas forças chavistas para reprimir manifestantes.
Segundo o governo brasileiro, a exportação dos sprays de pimenta ocorreu em conformidade com as normas vigentes. O produto, que provoca lacrimejamento intenso e sensibilidade da córnea, foi transportado de São Paulo até o estado de Roraima, que faz fronteira com a Venezuela.
Intensificação da repressão na Venezuela
A importação ocorre em um momento de escalada da repressão pelo regime de Maduro, que será empossado para seu terceiro mandato consecutivo nesta sexta-feira (10).
Nos últimos dias, a pressão sobre o regime aumentou após diversos países reconhecerem a vitória de Edmundo González Urrutia, apontado pela oposição como o verdadeiro vencedor das eleições presidenciais, com 67% dos votos, conforme relatório do Centro Carter.
Enquanto isso, manifestantes tomam as ruas exigindo que González assuma o comando do país. Em resposta, Maduro centralizou todos os poderes sob o Órgão de Gestão Integral (ODIS), que, sob o pretexto de “defender a paz”, lhe garante controle político e militar absoluto.
Além disso, o regime armou milicianos com fuzis russos para conter protestos e intensificou a intimidação com sequestros de opositores e seus familiares.
Sequestro de María Corina Machado e familiares de González
Na quinta-feira (9), a oposição venezuelana denunciou o sequestro de María Corina Machado, uma das principais líderes contra Maduro. Segundo sua equipe de comunicação, María Corina foi interceptada e derrubada de uma motocicleta enquanto saía de um ato em Chacao, Caracas.
“Hoje, dia 9 de janeiro, saindo da concentração de Chacao, Caracas, María Corina Machado foi interceptada e derrubada da motocicleta que dirigia. Armas de fogo detonadas no evento. Eles a levaram embora à força. Durante o período do sequestro, ela foi obrigada a gravar vários vídeos e posteriormente foi libertada”, informou o movimento Comando Con Venezuela no Twitter/X.
As autoridades chavistas negaram envolvimento no caso, mas a oposição acusa o regime de tentar desmoralizar María Corina.
Outro caso grave de sequestro ocorreu no dia 8 de janeiro, quando Rafael Tudares, genro de Edmundo González, foi capturado por forças do regime. Sua localização segue desconhecida.
“O desaparecimento forçado do meu genro, Rafael Tudares, continua. Não há informações sobre sua localização ou condição física. Condeno veementemente a violação dos direitos humanos, tanto de Rafael como daqueles que desapareceram nos últimos dias”, declarou Edmundo González no Twitter/X.
A esposa de Rafael, Mariana González Tudares, também se pronunciou nas redes sociais, apontando que o sequestro é uma retaliação política contra seu pai, o presidente eleito:
“Entendemos que o seu sequestro é uma medida de retaliação política contra o meu pai, Edmundo González Urrutia, e devemos ressaltar que aqueles feitos que se pretendem atribuir a meu pai, não podem se estender a todo o seu entorno pessoal e familiar”, escreveu Mariana.
Situação crítica para os direitos humanos
A escalada repressiva e os desaparecimentos forçados reforçam o clima de tensão e instabilidade na Venezuela, enquanto o regime chavista enfrenta crescente pressão interna e externa. A aquisição de materiais como sprays de pimenta para controle de manifestações destaca o papel das exportações internacionais no aparato repressivo do regime.