Entenda se chuva com fuligem pode ser ácida ou tóxica
Depois de muitos dias seguidos sem precipitação, uma frente fria está a caminho do Centro-Sul do Brasil. As constantes queimadas que ocorrem no país resultaram em nuvens de fumaça sobre os estados, que podem resultar na chamada “chuva preta”, quando a água se combina com os resíduos no ar.
Espera-se que o fenômeno aconteça em São Paulo, Paraná, Santa Catarina e em algumas regiões do Mato Grosso do Sul e do Rio de Janeiro. No Rio Grande do Sul, onde a frente fria se manifestou primeiro, os habitantes notaram que a água da chuva apresentava uma tonalidade escura. Saiba o que é essa chuva e como ela se origina.
Karla Longo, pesquisadora do instituto de monitoramento de fumaça, esclareceu em uma entrevista ao g1 que a queima consome matéria orgânica (árvores, plantas) e libera vários gases, como dióxido de carbono, monóxido de carbono, dióxido de nitrogênio e outros compostos.
Porque a chuva fica preta?
As partículas que vemos no céu são vestígios do que foi queimado, a fuligem, que se infiltra nas nuvens de chuva e confere à água uma coloração escura. “Essa camada cinza que estamos vendo são partículas, restos do que está queimando. A gente vê porque é uma quantidade grande, mas são muito pequenas e, por isso, ficam suspensas na atmosfera. Nesse ponto, elas se misturam à formação de nuvens e a chuva desce com esses restos”, observou Karla.
Existem focos de incêndios dispersos por todo o território nacional, ocasionando uma grande acumulação de fumaça na atmosfera. Essa fumaça, repleta de compostos químicos, permanece suspensa na atmosfera, que está saturada de fuligem. Essas partículas se entrelaçam com as nuvens de chuva em formação em decorrência da frente fria, resultando em água de coloração escura. A acidez da chuva é alterada pela presença de certos gases poluentes, em específicas concentrações.
A chuva preta pode ser ácida?
A ocorrência da chuva ácida é consequência da combinação de uma elevada quantidade de poluentes na atmosfera com a água, resultando na formação de ácidos. Por outro lado, a chuva preta não é necessariamente ácida, uma vez que a presença de fuligem isoladamente não modifica a acidez da água.
A possibilidade da chuva se tornar ácida ao entrar em contato com poluentes presentes na atmosfera, tais como os dióxidos de enxofre (SO2) e de nitrogênio (NO2), principalmente próximos a grandes centros urbanos, é uma realidade. No entanto, ainda é incerto se a quantidade desses poluentes sobre as cidades, onde a chuva ácida pode acontecer, pode alterar o pH da água.
A chuva preta é tóxica?
Especialistas afirmam que a chuva que fica escura devido à fumaça não é nociva para a saúde em termos de contato externo, como com a pele.
Segundo Gilberto Collares, professor de Engenharia Hídrica na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a chuva é resultado da queima de matéria orgânica, representando um risco menor.
Se as partículas fossem originárias de resíduos industriais tóxicos, o cenário seria alterado. “Se, além desses componentes, houvesse resíduos industriais de potencial tóxico, ocorreria o que se chama de chuva ácida, potencialmente muito mais perigoso”, esclarece o professor.
A orientação para a água da chuva preta, seja para uso ou consumo doméstico, é evitar usá-la para beber, cozinhar ou ter contato excessivo com a pele.